Por Sabrina Neumann — O Globo, do Rio


Matéria: Valor Econômico

09/08/2022

“Sabemos que as mudanças climáticas afetam mais os países mais pobres e que eles não são os principais responsáveis pela crise. As nações em desenvolvimento precisam de acesso às soluções, e não estamos sendo generosos.” As palavras de Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e presidente da ONG humanitária The Elders, durante o 1º Fórum de Justiça Climática do Um Só Planeta, resumem bem um dos grandes desafios na transição para um mundo de baixo carbono. O evento foi realizado ontem no auditório de “O Globo”, no Rio, e contou com nomes do Brasil e do exterior para compartilhar soluções para a criação de um mundo mais justo e resiliente.

Mary, que é ex-alta comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, lembrou também que grupos sub-representados dentro desses países, como indígenas, pretos e pardos e mulheres, tendem a sofrer ainda mais com a injustiça social gerada pelo aumento da temperatura da Terra.

A mobilizadora Denise Abdul-Rahman ressaltou o ponto em sua fala. “Quem sofre preconceitos de gênero e raça é mais suscetível a ter menos recursos para se adaptar à emergência que vivemos”, disse. Denise é gestora no Chisholm Legacy Project, que apoia comunidades negras na linha de frente das mudanças climáticas.

A economia de baixo carbono, para ser inclusiva, não pode deixar de levar em consideração as adaptações necessárias para as novas condições climáticas que se avizinham. Nas cidades, o planejamento é urgente. Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, destacou a importância de prefeitos e governadores pararem de culpar o clima pelos desastres ambientais e, no lugar de ações reativas, pensarem em prevenção e adaptação. “Já existem dados e ferramentas. Precisamos colocar isso na mesa de forma muita clara, se quisermos cidades habitáveis, comunidades vibrantes e cheias de vida”, afirmou.

Ana Carolina Câmara, diretora de Adaptação Climática na GIZ (Agência de Cooperação Internacional da Alemanha), destacou a importância de entender a atuação das instituições e políticas vigentes, para depois produzir estudos e averiguar os riscos climáticos, as opções de mitigação e adaptação. “A partir do momento em que temos consciência e passamos a dialogar e agir sistemicamente, passamos a ter o poder de transformar”, disse.

A mensagem de que enfrentamos, sim, múltiplos problemas, mas existem também muitas oportunidades ecoou por todo o Fórum. “O Brasil é o país mais barato do mundo para se construir uma matriz energética 100% renovável”, disse o economista Sergio Besserman. No painel “Rumo à economia verde”, tanto Besserman quanto Karen Oliveira, diretora para Políticas Públicas e Relações Governamentais da The Nature Conservancy (TNC) Brasil, destacaram o potencial brasileiro na transição para um mundo de baixo carbono. Para além das oportunidades em energia renovável e créditos de carbono, eles defenderam um olhar cuidadoso para a bioeconomia. “Nós ainda não conhecemos todas as possibilidades que a sociobioeconomia pode trazer. Precisamos investir nisso”, afirmou Karen.

As mudanças de hábito dos consumidores e empresas também foram debatidas no evento. Giovanna Meneghel, CEO e cofundadora da marca de leite vegetal Nude, contou um pouco de sua história. Para ampliar as possibilidades de escolhas mais conscientes, a Nude acredita na colaboração. “É por isso que optamos por ajudar outras empresas a seguirem esse caminho”, afirmou.

No painel “Desafios e oportunidades globais”, Mattia Romani, sócio da Systemiq e ex-consultor da Secretaria Geral da ONU sobre finanças climáticas, e Patricia Ellen, sócia e diretora da Systemiq no Brasil, chamaram a atenção para um potencial problema da transição para uma economia de baixo carbono: muitos empregos devem desaparecer nos próximos anos, enquanto novas profissões surgirão. Ambos ressaltaram a importância de buscarmos iniciativas de capacitação e inserção para este novo mercado de trabalho.

O Fórum de Justiça Climática, patrocinado por Engie e Vivo, foi um evento neutro em carbono graças à parceria entre Um Só Planeta e a consultoria O Mundo Que Queremos.

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